18 agosto, 2009

313 - A Montanha

Foto:Charquinho

A Montanha

Subi a montanha
Para ver a beleza
Queria falar sozinho
Com a natureza

Olhei para o céu
Mas não vi ninguém
Só vi umas nuvens
Em forma de véu

Ao chegar ao alto
Era muito cedo
Havia uma voz
-Tu não tenhas medo

Chegando ao cimo
Logo me deitei
Tudo era sonho
Logo que acordei

Desconhecia tudo
Não sabia nada…
Queria subir mais alto
Mas não tinha estrada

Olhei para o lado
E vi um caminho
Uma voz me disse
Não subas sozinho

Pensei duas vezes
Não quis arriscar
Do alto do monte
Já só via o mar

Como era tarde
Pensei em descer
O medo era tanto
Que me fez tremer

Assim a tremer
Vi uma escadaria
Desci por ela
Vi o que queria

José Augusto Simões

17 agosto, 2009

312 - Ruinas

Foto: Shark

O velho palácio

Houve outrora um palácio, hoje em ruínas,
Fundado numa rocha, à beira-mar...
Donde se avistam lívidas colinas,
E se ouve o vento nos pinhais pregar
Houve outrora um palácio, hoje em ruínas.

Nesse triste palácio inabitável,
As janelas sem vidros, contra os ventos,
Batem, de noite, em coro miserável,
Lembrando gritos, uivos e lamentos.
Nesse triste palácio inabitável...

Só resta uma varanda solitária,
Onde medra uma flor que bate o norte,
Sacudida de chuva funerária,
Lavada de um luar branco de morte.
Só resta uma varanda solitária...

Como nessa varanda apodrecida
Em minha alma uma flor também vegeta...
Toda a noite dos ventos sacudida,
Íntima, humilde, lírica, secreta,
Como nessa varanda apodrecida...
Gomes Leal.

13 agosto, 2009

311 - Eu

Foto: Shark

Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca

12 agosto, 2009

310 - Canção do Mar

Foto: Shark

Canção do Mar
Fui bailar no meu batel
Além do mar cruel
E o mar bramindo
Diz que eu fui roubar
A luz sem par
Do teu olhar tão lindo
Vem saber se o mar terá razão

Vem cá ver bailar meu coração
Se eu bailar no meu batel

Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo
Vem saber se o mar terá razão

Vem cá ver bailar meu coração
Se eu bailar no meu batel

Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo
Frederico de Brito / Ferrer Trindade

309 - Dia 12 de Agosto - 2 anos de Imagens e poemas

Foto: Shark

Prosseguir

Um a um,
apagaram-se os candeeiros
que iluminam a minha estrada...
um a um...
não ficou nada...
tudo escuro como breu...
tudo da cor apagada
daquilo que nunca foi...
E eu?...
Como vou continuar?...
Tacteando como um cego
ainda a aprender a andar,
como jovem marinheiro
que nunca esteve no mar?...
Onde está minha bengala,
minha ajuda, meu bordão?...
ah!... se alguém me desse a mão!...
Mas não!...
A maior parte da gente
que vai aqui a meu lado,
não consegue, se bem tente,
ajudar um só bocado...
E, um a um,
apagaram-se os candeeiros
que iluminam a minha estrada.....
só resta continuar...
É mais ou menos tropeço...
Para quem tropeçou tanto,
não faz mal mais uma queda...
Já nem dá para ter pranto
que adoce uma vida azeda...
só resta continuar...
Fazendo desta fraqueza
em que mergulho, por vezes,
a penumbra duma noite
que jamais terá aurora...
E, mesmo que não se afoite
a coragem que já tive,
prosseguindo a caminhada,
mesmo com lingua de fora......
sozinho, sim!......
cego, também!......
levando-me a mim
para além do além...
E, se um dia, por azar,
uma luz, um raio só,
por mim vier a chamar,
mesmo que seja por dó,
erguerei minhas espaldas,
limpar-me-ei da poeira,
ajeitarei os remendos
e, de mãos na algibeira,
gritarei, sereno, altivo:
“Prefiro a escuridão!...
Com ela vivo!...
Contigo, luz, não!”....
(magpinto)

10 agosto, 2009

308 - E de negro se vestiram

Foto: Shark

Litoral

Neste mesmo local,
de olhos postos no mar,
- quantas mulheres de Portugal
se vieram sentar?

Quantas e quantas gerações aqui vieram
até à presente geração,
que lutaram, pescaram e comeram
sardinha com pão

Neste mesmo local,
de olhos cansados do mar,
ai quantas mulheres do litoral
se vieram sentar...

Manhãs de tempestades despertaram,
homens e homens partiram,
mulheres enviuvaram
e de negro se vestiram.

E como prémio tiveram,
tiveram como pensão,
algumas frazes piedosas que lhes deram
e nem sardinha com pão, nem sardinha com pão.
Sidónio Muralha

08 agosto, 2009

307 - Outra vez o MAR

Foto: Shark

Poema

Na espuma verde do mar
Desenharei o teu nome,
Em cada areia da praia
Em cada pólen da flor
Em cada gota do orvalho
O teu nome deixarei gravado

No protesto calado
De cada homem ultrajado
Em cada insulto
Em cada folha caída
Em cada boca faminta
Hei-de escrever o teu nome

Nos seios férteis das virgens
Nos sorrisos perenes das mães
Nos dedos dos namorados
No embrião da semente
Na luz irreal das estrelas
Nos limites do tempo
Hei-de uma esperança semear
.
António Mendes Cardoso